História A Assassina da U.A. (PAUSADA) (2023)

- Vai Bakuuuu, sai logo desse quarto homem! - bati pela décima vez na porta do quarto do meu amigo. - Todo mundo tá esperando você ô criatura.

- PORRA! - ele abriu a porta com tudo, mostrando ele vestido com o kigurumi que eu havia dado a ele no ano retrasado. - Feliz?

- Muito, assim você faz casalzinho com o Kirishima - sim, o kigurumi dele também era de tubarão, mas era laranja.

- FILHA DA MÃE! - Bakugou estendeu a mão pra me tocar mas logo puxei o ruivo pra minha frente, me escondendo atrás do mesmo.

- Seu namorado quer me bater - disse pra ele apontando pro loiro. Ambos coradíssimos. Eu não evitei o riso, assim como o restante do pessoal. - Vamos comer, estou precisando comer algo depois de tudo isso.

Assim que falo isso, os dois me olham e logo apontam pra mesa, eu, obedientemente, vou lá me sentar e esperar o que os dois estão fazendo porque cada um já está com seu prato menos eu. Tamborilo meus dedos na madeira da mesa, olhando para minhas unhas até que um prato enorme junto de uma tigela é colocado na minha frente.

- Coma - diz Bakugou como uma ordem.

- Isso tudo? - alterno meu olhar do prato para o loiro que se senta do meu lado esquerdo e para Eijirou que vai pro meu lado direito afirmando com a cabeça.

- Lhe conheço o suficiente para saber que quando você está triste ou algo ruim acontece, você praticamente não come, você belisca. Come um biscoito ou uma bolacha e bebe água ou se enche de café. - Suspiro com um pequeno sorriso. - Pode tratar de comer tudo o que estiver nesse prato e você não sairá desta mesa se o prato não estiver vazio.

- Você está soando como minha mãe - riu meio chocada.

- Dona Layla me ensinou a lidar com você, coma.

Dei de ombros e peguei os hashis, começando a comer. Arroz, onigiri, sushis, macarrão, hot rolls, junto de um a pequena tigela que tinha lámen, porco e boi, além dos ovos. Acho que minha mãe passou foi o quanto eu como quando estou nesse estado. Enquanto estou comendo, sinto e ouço meu telefone tocar aquela musiquinha que eu reconheceria de longe.

- Falando em mi madre, - pego o telefone e me levanto - com licença - e me afasto, indo pro corredor. - Mama?

- Hola mi amor, ¿has cenado? (Espanhol: Oi meu amor, já jantou?)

- Estaba cenando (Espanhol: Estava jantando). - Olho de um lado pro outro e logo mudo pro russo. - Здесь есть люди, которые понимают по-испански (Tem gente aqui que entende espanhol).

- Ah... Мне было просто любопытно, почему директор позвал меня (Eu só fiquei curiosa do por quê o diretor me ligou) - minha mãe fala tranquila e eu suspiro, disfarçando a voz o máximo.

- Это ничего, мама, должно быть, у меня есть разрешение действовать в поле. (Não é nada mamãe, deve ser para ter permissão para que eu aja em campo.) - Digo do mesmo modo, mantendo o tom.

- Nossa, era só isso - riu e confirmo que sim. - É claro que pode mia petit papillon (Francês: minha pequena borboleta).

- Agora eu vou voltar pra mesa mama - vou voltando pra junto do pessoal a mesa que me olham.

- Certo meu bem. Te amo minha neném - sorriu pequeno olhando pros meus pés. - Dá um beijo no Bakugou e no namorado dele por mim - quando ela diz isso, faço questão de que o loiro e o ruivo ouçam, pondo no viva-voz.

- Mama, no escutei o resto - sorriu maliciosamente pra Bakugou que semicerra os olhos irritado.

- Dê um beijo nele e no namorado por mim meu amor.

- Ok mama, tambien te amo. Dá um beijo no pessoal, no fim de semana eu chego ai.

- Aeeeeee S/N VAI ESTAR EM CASA NO FIM DE SEMANA!! - ela berra pra mansão inteira que devolve o grito.

- Amo vocês pessoal.

- Também lhe amamos hija. Agora vai comer vai.

- Hai hai, bye bye.

- Bye bye - e assim eu desligo, olhando a cara de furioso do loiro de olhos vermelhos.

- Mama mandou um beijo para você - guardo meu celular no bolso e beijo a bochecha dele - e um pro seu namorado - beijo a testa de Kirishima que está quase atingindo a coloração do próprio cabelo. Quando penso que não, o loiro avança em mim e eu logo puxo a cadeira do ruivo antes de empurrar ele no colo do garoto. - Casal lindo. - Meu olhar passa rapidamente sobre Mina que logo tira uma foto antes que eu saia correndo ao redor da mesa com o loiro revoltado e corado atrás de mim. - SAI SATANÁS!! AAAAAAAAAAAH!! TEM UM PINSCHER ATRÁS DE MIM GENTE.

O pessoal ri, mas logo paramos quando ele conseguiu puxar a cauda do meu pijama, fazendo eu cair de bunda no chão e reclamar de dor.

- Bem feito para ti! - disse voltando a se sentar.

Voltamos a jantar em silêncio mas acabamos voltando a conversar, estava confirmado com meus amigos que faríamos o trabalho do professor Ishiyama na noite seguinte. Entretanto, não sei se por minha causa ou não, decidimos fazer uma festa do pijama com todas as porcarias que tinham nos armários e na geladeira. Fizemos brigadeiro a lá Brasil com coco ralado, pipoca, e brownie, e - de uma forma na qual não quero saber - Hitoshi apareceu aqui no nosso dormitório também vestido com um kigirumi.

Passamos o resto da noite comendo e assistindo Brooklyn 99 na televisão da sala. Quando era mais ou menos umas três da manhã, todos estavam dormindo no sofá, espalhados pelos colchonetes ou apoiados uns nos outros. Devagar, eu me levantei e fui arrumando cada um, cobrindo e pondo almofadas e travesseiros abaixo das cabeças. Admito que usei um pouco dos poderes de sono do Castian para poder mover alguns dos lugares, por exemplo: tirei Midoriya que estava deitado, encolhido na poltrona e o coloquei ao lado de Todoroki que dormia no futon dele. OK, pus ele dentro do futon; Com Hitoshi e Denki, eu apenas coloquei um travesseiro na cabeça do nosso convidado; Coloquei Bakugou deitado de barriga pra cima no sofá o mais confortável que consegui antes de pôr aquele monte de músculos deitado em seu peito, entre suas pernas; Coloquei Jirou pertinho de Momo que a abraçou na hora... estranho; Arrastei Mineta pro quarto dele; Coloquei Uraraka perto de Iida - não sei por quê... -; Tsuyu perto do Tokoyami; E o resto, eu organizei sobre os futons, para que ficassem aquecidos e confortáveis assim como os outros. E eu, na poltrona onde Deku estava, eu me sentei e me encolhi, me cobrindo com um dos lençóis quentes que trouxemos e dormi ali após desligar a televisão e levar os depósitos e copos para a cozinha, lavando todos.

Na manhã seguinte, tinhas muitos rostos corados e alguns que mal conseguiam se olhar no rosto. Fomos pros nossos quartos pra nos arrumarmos antes de tomarmos café e ir pro prédio das salas de aula. As primeiras aulas se passaram rapidamente, mas nos intervalos entre a troca de professores eu não ficava sozinha, sempre mantinha algum amigo meu ali. Passei todo o horário de aulas grudada em algum colega ou perto de alguém conhecido, na hora de voltar pros dormitórios foi a mesma coisa, não desgrudei de Sero, Shoji e Mashirao. Nenhum dos garotos deixavam as garotas sozinhas e elas - caso se separassem dos garotos - andavam em grupo.

Quando a tarde chegou, eu não tive coragem de sair, ainda estava temendo Monoma, e se eu dissesse que sairia, alguém viria comigo só por garantia. Não arriscaria a segurança de Dabi e nem dos outros vilões. Passei o resto do dia no quarto, organizando os links que o pessoal me mandou para o trabalho do sr. Ishiyama.

Sentada na minha escrivaninha com uma xícara de café ao meu lado, abro cada um dos links, analisando cuidadosamente os detalhes para que não fique repetido, fazendo um resumo no caderno que me fez ficar com bolhas nos dedos, as vezes dá raiva não ser desleixada. Leio e releio o resumo antes de pesquisar mais algumas coisas sobre o assunto e por no papel. Não demora muito para escurecer, então levo minha xícara para a pia antes de pegar meu notebook e o caderno, indo pro quarto de Mina onde já estão Denki, Sero e a dona do cômodo.

- O Bakugou e o Kirishima vão demorar? - eles perguntam para mim, mas eu apenas dou de ombros. Me sento no tapete preto felpudo da garota, pondo minhas coisas sobre ele. - Já separaram os seus?

Concordamos e começamos a conversar sobre qualquer coisa enquanto esperamos os dois, mas eu de repente paro a conversa para conseguir ouvir o outro lado da porta, pedindo pros outros fazerem silêncio pondo um dedo na frente da boca.

- Então... é sério o que você disse para mim? - era a voz de Kirishima do lado de fora, era baixa, sussurrada, mas eu podia ouvi-lo muito bem.

- S-Sim... - Bakugou? - mas não quer dizer nada ok? Foda-se tudo disso, finja que isso não aconteceu, eles estão nos esperando. - Era Bakugou ali e... sons de beijos? Seria possível ou era ilusão da minha cabeça?

- Mas o quê- levanto um dedo na frente da boca novamente e Mina se cala.

- E-Eu também amo você meu Katsu e eu aceito ser seu namorado - minha boca se abre num sorriso eufórico e balanço as mãos animadamente, enquanto os outros me olham em dúvida. Mais barulho de beijos e suspiros, acabo corando, mas então ouço:

- Sabe que a S/n deve estar ouvindo isso não é? - Dou de ombros mesmo que eles não consigam me ver mas o meu sorriso continua aberto, ouvindo as risadas deles.

- Sim S/a, a gente está namorando agora - escuto Kirishima dizer e então me levanto abrindo a porta, me deparando com o ruivo abraçando a cintura do meu loiro que está com uma mão segurando o notebook e a outra descansando na nuca do maior.

- Vou ser madrinhaaaaaaa - digo abraçando os dois. Beijo a bochecha de cada um que sorri.

Depois disso, fomos pro quarto de Mina que surtou tanto quanto eu com a notícia, mas acho que eu devo ter sonhado porque eu ouvi Denki dizer que estava com Hitoshi. AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!

- EU SABIA!!! SABIA QUE ELE TAVA DE ROLO COM AQUELA BERINJELA AMBULANTE!!!

Após mais uma série de surtos meu e de Mina, começamos finalmente a fazer o trabalho. Denki e Sero foram pesquisando o estilo do slide e Mina as imagens, enquanto eu passava toda a pesquisa para o Word, fazendo a capa, contracapa, sumário e uma introdução antes de realmente começar o trabalho. Katsuki, junto de Kirishima e Mina, organizavam as coisas para por nos slides. Ficamos lá até uma da manhã, antes de irmos cada um pro seu devido quarto.

Naquela quinta fiz meus exercícios no quarto, mas só o básico. Quando terminei, pude ouvir a chuva cair do lado de fora do prédio, molhando a mini varanda que tenho. Infelizmente foi anunciado mais cedo de que não haveria aula naquela manhã pois os professores tiveram que sair para fazer uma patrulha na cidade vizinha, mas voltariam antes do meio da tarde. Tomei um banho rápido e fui me vestir pra tomar café da manhã. Pego uma blusinha preta de alças junto de uma calça cargo com uma correntinha no lado direito, tiro do guarda-roupa um casaco de zíper na cor azul, quase cinza, e calço meus all-star antes de ir para o corredor, onde ouço Midoriya falar o nome de Todoroki um pouco alto. Ele deveria gritar.

No momento em que chego na sala, vejo o bicolor sentado no sofá com uma xícara de chá na mão.

- Bom dia pessoal!

- Bom dia!

- Todoroki, - o bicolor me olha - o Midoriya está te chamando, - aponto pro corredor atrás de mim - acho que a porta está aberta. - O maior acena pra mim e agradece antes de deixar a xícara no pires que está na mesinha de centro e ir pra onde eu falei.

- Com fome S/n? - pergunta Sato na cozinha.

- Sempre - sorriu e vou até ele, olhando o que ele esta preparando. - Quer uma ajudinha?

- Claro, pode bater isso para mim? Estou usando a batedeira - ele ri sem jeito e eu apenas afirmo, pegando a caçarola (aut e Cas: SKSKSKSKSKSKSKSKSKSKS SEM MATURIDADE) e o fuê, batendo as claras que estão ali. - Você vai para casa no fim de semana não é? - afirmo novamente. - Vou lhe dar a lista do que eu preciso para fazer as sobremesas - meu sorriso se alarga.

- Sim, sim. Eu vou dar uma volta na cidade e compro algumas das coisas, amanhã eu compro o resto. - Agora ele afirma enquanto untava uma assadeira e uma forma de bolo.

- Eeeer... sei que não é da minha conta, mas por que você sai tanto pra cidade? - o garoto corado me olha rapidamente. - Desculpa.

- Tudo bem - riu baixo. - É só que andar pela cidade me distrai de alguns pensamentos do que vem acontecendo esses dias sabe?

- Sim... desculpa.

- Está tudo bem, não tem por quê se desculpar. - Bato o conteúdo mais rápido e então me viro pro corredor. - Você viu o Bakugou? Estranho ele não estar aqui...

- Verdade, mas eu não o vi até agora. - Sato estende a mão pro pote que estou segurando. - Já está ótimo S/n, obrigada.

Vejo ele por numa massa de bolo antes de mexer o conteúdo.

- Vou ver se ele está dormindo - digo isso e volto pro corredor, indo em direção da porta, porém, não deixo de ouvir alguns gemidos baixo vindo da porta da frente, balanço a cabeça tentando ignorar, batendo na porta do meu amigo.

Nada, então bato novamente.

- Baku? Está acordado? - bato mais uma vez antes de anunciar. - Tô entrando Baku e é melhor estar vest-

Minha voz morre e um queimor toma conta do meu rosto. Eu não queria ter visto essa cena, mas... Na minha frente, dormindo, estão Bakugou e Kirishima agarrados um no outro, dividindo a cama de solteiro do loiro. Meus olhos vagam pelo cômodo e logo param nas roupas espalhadas no chão e voltam pro casal, me dando conta de que eles estão nus. O cheiro de sexo ainda está ali, então trato de sair de fininho e fechar a porta devagar, trancando e jogando a chave por baixo.

- AAAAAAAAAAAAAA!!

- SE CONTROLA MULHER!!

Mordo meu lábio inferior sorrindo e encarando aquela porta que fechei. Respiro fundo e balanço as mãos perto do meu rosto, abanando um pouco de vento pro meu rosto para que minhas bochechas parem de queimar mas quando já sinto meu sangue voltar a circular normalmente, ouço um gemido.

- A-aah Todo-roki-kun...

Meu corpo congela e eu viro minha cabeça para a porta de Midoriya tão qual o exorcista. Não acredito que eles estão transando essa hora da manhã, eu toda crente aqui.

- Midoriya - a voz grave do bicolor ecoa nos meus ouvidos o que me faz sentir o queimar voltar no rosto muito mais forte. Acho que está até saindo fumaça pelas minhas orelhas.

- Todo e-eu v-o-ou - tapo minhas orelhas e ando rapidamente pra longe do corredor, chegando na cozinha e pegando uma xícara para tomar café.

- S/a, por que você está tão vermelha? - pergunta Tsuyu me olhando enquanto eu coloco o liquído negro na porcelana, depois pondo açúcar e bebendo um pouco.

- Uma dica... - o pessoal me olha - pra todos: NUNCA queiram ter a audição aguçada.

- S-Sho-to...

- Aaah agora é pelo nome, Izuku? - as vozes dos dois, os gemidos e os suspiros... POR QUE EU AINDA CONSIGO OUVI-LOS DAQUI?

- Por que? Eu sempre quis - diz Jirou. - Mesmo que minha individualidade seja mais ou menos isso.

Eles me olham e eu balanço a cabeça negativamente.

- Não queiram, confiem - bebo o resto do liquido todo de uma vez. - Vocês ouvem coisas que não querem. - Me viro para Sato que coloca uma fornada de biscoitos no forno. - Vou sair agora, quais são as coisas que posso comprar?

- Não vai tomar café? - ele aponta pro forno onde está assando bolinho e os biscoitos, mas eu sorrio.

- Não, desculpa, tem coisas acontecendo aqui que não estou afim de ouvir. - Ele afirma com a cabeça e com as sobrancelhas franzidas, confuso.

- Ok... pode comprar farinha e chocolate, amanhã eu vou contigo pra comprarmos o resto.

- Tudo certo - sorrio. - Farinha com ou sem fermento?

- Sem.

- Certo, já estou de saída. - Caminho até a saída, vendo que parou de chover, mas me volto pros que estão sentados no sofá e pros que estão na cozinha. - Se o Baku perguntar, eu saí e volto a tempo do almoço, e guarda uns bolinhos e biscoitos pra mim. Beijos, tchau.

- Tchau! - ouço antes de sair do prédio. Vou caminhando pra cidade, olhando tudo ao meu redor, ainda temendo o que Monoma fez ontem.

Quando chego na multidão, suspiro aliviada, fazendo o mesmo caminho de sempre, mas, durante meu percurso começa a cair uma forte chuva de repente, eu me transformo e corro até o beco com meu coração torcendo para que ele estivesse lá, estivesse lá esperando por mim. Entretanto, assim que estou perto, só ouço uma porta de metal fechar antes de eu entrar naquele beco escuro e sujo. Ele deve ter entrado. Olho pros lados mas nada dele, me sento no caixote que ele puxou para sentar na segunda vez que vim aqui e fico lá esperando a chuva passar com o pelo todo molhado já que ali é um pouco coberto.

- O boy entrou... não acredito que você está gostando dele. Só os morenos sarcásticos.

- Ah se lascar vai.

Alguns poucos minutos se passam e nada da chuva cessar, nenhum indicio de que ela parará. Mais fácil eu ir embora... Desço do caixote meio cabisbaixa, meus passos me arrastam pra saída dali mas acabo sendo chutada pra trás por alguns moleques.

- Eca, cachorro de rua. - Diz um deles e eu me levanto rapidamente me sacudindo, olhando pro trio a minha frente, todos com seus guarda-chuvas.

- Esses bichos deveriam ser exterminados - outro sussurra e se abaixa, pondo uma sacolinha no chão e me chama. - É comida, venha.

O cheiro do alimento vem até mim, realmente é ração, mas tem outra coisa embutida nela e tenho quase certeza que é veneno. Eu caminho devagar até a porta de metal onde eu trato de arranhar, latir e chiar, pedindo para que ele apareça.

- Desgraçado, venha comer a porra dessa comida e deixe de algazarra. - O que falou anteriormente anda rapidamente até mim estendendo a mão para me pegar pela pele das costas, eu me mexo rapidamente tentando me soltar, latindo alto e arranhando com mais força o portão antes dele me erguer no ar e me jogar contra a parede do prédio ao lado, entretanto, quando sinto meu corpo atingir com violência os tijolos vermelhos ouço o portão abrir do mesmo modo.

- S/N!! - Castian berra, mas eu não o deixo sair já sabendo o que aconteceria a seguir.

Com minha visão embaçada e corpo molhado, vejo Dabi berrar com os garotos, socando eles que correm, e só então o moreno vem até mim, ver meu estado. Eu mal consigo ouvir nada, um zumbido insuportável tomou conta dos meus ouvidos, mas sinto depois as mãos com grampos me segurarem com delicadeza e me por seu peito, me pondo para dentro. Acho que acabei apagando por poucos minutos, pois ainda sentia meu corpo dolorido e úmido.

- Você está toda molhada ratinha - ouço a voz grave do moreno acima de mim. Me sento no colo dele ainda zonza. - Aqueles imbecis, você comeu aquela ração? - ele questiona me olhando enquanto sinto um pano passar nas minhas costas devagar. Olho pra debaixo das minhas patas, vendo uma toalha. - Comeu? - aceno que não e ele suspira.

- E ele ainda te chama de ratinha só por causa do tamanho, puta que pariu.

- Dabi, por que raios você saiu como um louco pela porta nessa chuva? - ouço uma voz arrastada e grave, mas é estranha, como se a garganta estivesse constantemente seca. Viro a cabeça na direção da voz e vejo Shigaraki ali, sentado num banquinho de um balcão de bar. - Não acredito que saiu por causa dessa cachorra.

Olho de volta pro moreno que está com a mão no meu peito, continuando a me secar como se nem o ouvisse, de repente, sinto alguém vir para minha frente, me assustando.

- Ela é tão lindinha - era Toga. A garota loira que estava no ataque, sua individualidade consiste em roubar e adquirir a aparência e a individualidade de alguém por meio do sangue. Observo ela erguer a mão na minha direção, mas me encolho e ela rapidamente recolhe a mão com uma carinha triste.

- Está tudo bem ratinha - o de cicatrizes diz me fazendo carinho. - Ela é legal. - Olho para ele e depois para Toga, vejo Dabi pegar a mão da garota e a aproximar de mim, me deixando cheirá-la antes de por ela em minha cabeça. - Viu só, ela é legal.

A menor dá um sorriso enorme, mostrando as presas. Realmente, presinhas são fofas.

- Tem algum motivo pra você ter ido salvá-la exatamente? - silêncio. - Não importa o que ouvimos ou sentimos lá fora, não podemos entregar a nossa base. Já pensou se algum herói vir você lá fora entrando aqui. - Então... - Por que você foi?

- Por que ela estava me chamando - foi tudo o que o moreno disse, me arrumando em seus braços e me levantando junto dele.

- Aaawwnnt que lindo.

- Te chamando? Quer dizer que o porquê de você ter arriscado nossa segurança foi porque uma cadela de rua imunda grunhiu, chorou e arranhou o portão atrás de você? Me poupa Dabi.

- Respeita minha cachorrinha seu futum ambulante, moleque não toma banho.

A cada palavra que o albino dizia, eu rosnava, sentia uma raiva subir em mim ao ponto de eu soltar latidos contra Shigaraki que se assustou, enquanto o fazia, o maior me segurava para que eu não caísse, mas - em compensação - a toalha acabou caindo e foi só ai que senti o pingente do meu colar bater contra meu pelo. Fiquei em silêncio, assim como o rosto do albino na minha frente se transformou de raiva numa confusão de dor, tristeza e surpresa. O observo se aproximar de mim com o olhar fixo na pequena pérola que há no colar. Meu olhar vai dele pro pingente e logo noto sua mão estendida para pegá-lo, eu lato novamente o que o faz dar um pulo para trás num susto, mas, nisso, um colar idêntico ao meu salta para fora de seu moletom escuro.

Não.

- S/n...

- Porra - ele xinga olhando pra própria mão, analisando se o mordi. Me arrumo nos braços de Dabi e me impulsiono um pouco para pular, agarrando o colar do albino entre os dentes, o rompendo quando cai no chão e sai correndo pelo bar. - Peguem essa cadela desgraçada! - berra ele para os outros membros da Liga que estão ali presentes.

Pensa, pensa... o que eu faço pra não ficar suspeito?

Uma ideia me vem na mesma hora, fingir que é uma brincadeira.

Corro de um lado para o outro, como se estivesse brincando de pega com eles, sempre abanando a cauda, até que Dabi consegue me pegar com um leve sorriso.

- Peguei você anãzinha - ele me põe no colo, pegando o cordão da minha boca e fazendo carinho na minha cabeça antes de me por no chão e entregar o colar ao outro.

- Por que esse colar é tão importante para você, Shigaraki? – pergunta Toga, curiosa. Sinto meus olhos arderem enquanto o observo apertar o pingente com alguns dedos.

- Uma pessoa importante do passado me deu ele... mas faz muito tempo e eu não sei o que aconteceu com ela ou onde ela pode estar – diz ele em um tom baixo, colocando o colar e o olhando com cuidado antes de o enfiar por debaixo da camisa e do moletom.

- Ela é? - diz Toga em ironia, como provocação ao mais velho que só revira os olhos.

- Ainda não consegui entender direito essa importância – afirma Dabi olhando pra mim -, e se é tão importante, por que caralhas essa cachorrinha tem um colar praticamente idêntico ao seu? - Shigaraki me olha com os mesmos sentimentos nos olhos: medo, confusão e saudade.

- Não faço ideia... - foi só o que ele falou.

Eu consigo sentir meu coração bater tão forte que posso ouvi-lo soar nas em meus tímpanos, sinto algo em mim gritando, berrando, implorando, chorando e uivando pelos montes de sentimentos, em todas as direções possíveis, que ele era quem eu sempre procurei, que Shigaraki era aquele que não tinha nenhum registro. Meu primeiro amigo e primeiro amor, desde meus seis anos... desde que fui adotada, ele havia sumido.

Agora finalmente as peças se encaixavam na minha mente. Por isso eu não tinha conseguido achar rastros, por isso minha irmã não conseguiu nenhum documento, achar nenhum registro. Tudo havia sido apagado, apagado pois vilões são "ninguém". Aquele garotinho doce e carinhoso que me visitava no orfanato tinha sido transformado e moldado pelos preconceitos da sociedade, forçado a se proteger de tudo por seu poder. A criança gentil e calorosa virou um rapaz lindo, mas diferente. Era frio, psicótico e solitário, não fisicamente, mas internamente. Meu querido Tenko havia morrido para que sua versão blindada contra tudo nascesse: Shigaraki, ele era meu anjo de olhos de rubi.

Sem conseguir mais ficar ali por mais nenhum segundo, mordo a perna da calça jeans preta de Dabi que me olha, observando meus passos até a porta de metal onde lati e arranhei pedindo para que ele a abrisse. Tenho que sair logo daqui, caso não, sinto que irei me destransformar aqui mesmo e abraçá-lo com todas as minhas forças.

- Calma garota! Estou indo – o moreno caminhou calmamente até mim e afagou uma última vez o meu pelo, num carinho rápido. - Tchau amiguinha - ele disse abrindo a porta e me vendo sair, acenando para mim enquanto eu corria pela chuva forte, dando apenas um latido em despedida. Corro até a loja de conveniências do outro dia, voltando a minha forma humana antes de entrar entrar no estabelecimento, mas não sai da porta onde havia um tapete.

- D-Desculpe por molhar o chão - peço fungando, sentindo meus olhos arderem e minha garganta fechar. - P-p-pod-e me dar - pigarreio tentando fazer minha voz não falhar - uns dois sacos de farinha de trigo sem fermento e algumas barras de chocolates? - a atendente se questionando o que deve ter acontecido comigo, logo saindo de trás do balcão e vai pegar o que pedi, pondo numa sacola e me entregando.

- Tudo bem. Deu ¥ 852,63 - ela me olhou com calma, me vendo tirar ¥ 900 da carteira e a entregando.

- Obrigada, pode ficar com o troco - me viro pra porta. - Desculpe novamente. - Digo e saio na chuva que continua forte e incessante, dando um nó na sacola para que não entre água enquanto caminho lentamente, de volta ao dormitório.

Shigaraki...

"- Esse colar é pra gente se encontrar quando sua mamãe adotar você, ai vamos poder brincar e nos casar!!"

A voz doce e alegre do pequeno albino soou na minha mente, me fazendo sorrir pequeno e sentir as lágrimas quentes correrem pelo meu rosto já molhado pela chuva. Eu estava encharcada pelo temporal.

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Author: Jeremiah Abshire

Last Updated: 08/05/2023

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Name: Jeremiah Abshire

Birthday: 1993-09-14

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Job: Lead Healthcare Manager

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